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Je ne suis pas Charlie et je ne suis pas un hypocrite

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Antes de começar esse texto, eu gostaria de deixar clara a minha indignação com todo e qualquer ato de terrorismo, principalmente aqueles que envolvem civis. Jamais poderia ser a favor de assassinatos, depredações e outros atos de vandalismo e violência. Parece óbvio, mas não o é, se faz necessária à afirmação para evitar deturpações com o que vou dizer daqui pra frente. O mundo assistiu de forma indignada o assassinato de doze funcionários do jornal Charlie Hebdo em virtude das caricaturas de Maomé, profanando a religião Islâmica. Segundo o Islamismo qualquer representação divina ou do profeta Maomé é formalmente proibida.

Os defensores da “liberdade de expressão” podem alegar que essa é uma norma exclusivamente muçulmana e que qualquer veículo de mídia pode ignorar tal determinação. De fato, não vejo como ofensa retratar o profeta Maomé, afinal, não tenho que seguir os preceitos da religião islâmica, mas retratar o profeta é bem diferente do que fez e do que faz o Charlie Hebdo. As caricaturas do jornal profanam e desrespeitam religiões, governo e pessoas sem nenhuma espécie de regulação por parte do governo francês.

Desconhecia a existência do jornal até o ataque ocorrido recentemente. Procurei mais informações e o que vi foi uma série de ofensas não somente aos muçulmanos, como também a Cristãos, negros entre outros. Todas desrespeitosas, muitas delas também me deixaram indignado. Nada que justifique o assassinato destes cartunistas, contudo, não existe nada que justifique também agressões gratuitas e desrespeito a fé alheia. Muitos muçulmanos franceses (e por toda a Europa) vêm sendo alvo de perseguição e esse tipo de publicação só fomenta a intolerância de ambas as partes.

Aqui no Brasil qualquer tipo de regulação sobre o jornalismo é tratado como censura por muitos, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Tudo no País é regulado, propagandas, horário eleitoral e até mesmo comportamentos. Não há uma censura prévia, mas algo pode vir a sair do ar ou ser punido se entenderem que isso é ofensivo ou que vá de encontro à nossa constituição e valores. Ofensas racistas nos estádios de futebol foram à tônica esportiva em 2014, clubes e torcedores foram punidos e ninguém defendeu o direito de expressão dos ofensores.

Atualmente o mundo se volta contra o islamismo e não somente contra grupos terroristas. A religião é utilizada como alicerce para a barbárie, se não fosse a religião seria qualquer outra motivação. Aqui no Brasil, se não é habitual nos matamos em nome de Deus, o fazemos em nome dos nossos times de futebol. Vale ressaltar que a indignação contra o terrorismo é bastante seletiva. Logo após o ataque na França que comoveu e ainda comove o mundo, o grupo Boko Haram promoveu o assassinato de cento e cinquenta pessoas na cidade de Baga, na Nigéria. Segundo fontes da Anistia, o grupo extremista islâmico já matou mais de duas mil pessoas, principalmente mulheres e crianças. Você vê alguma manifestação contra esse massacre pelo mundo? Artistas com camisas pedindo o fim dos assassinatos? Jornais? Passeatas? O mundo parece estar com o Charlie Hebdo, o jornal francês, mas não com os nigerianos, como se na África, assassinatos não merecessem nossa indignação.

Como diz o título deste texto “Je ne suis pas Charlie et je ne suis pas un hypocrite”, em bom português, eu não sou Charlie e também não sou hipócrita.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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