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O massacre – Parte Final

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Antes de prosseguir, leia O massacre e O massacre – parte 2

Não daria tempo para que Naara impedisse que o cateto atacasse ferozmente a indiazinha. O animal tinha um porte gigantesco, muito maior que qualquer outro porco do mato que já tivessem avistado pelas matas. O olhar da fera era ódio puro e partiu em direção à menina com a intenção de cravar-lhe as grandes e afiadas presas, incomuns naquela espécie.

Eirapuã ajoelhou-se fechando os olhos, já aguardando a mordida do animal, quando um assobio estridente fez com que o cateto recuasse. Naara não acreditava no que via, ele era real, pela primeira vez pôde encarar o Curupira. Era exatamente como diziam as lendas indígenas, do tamanho dos curumins da tribo, dentes verdes como pedras de jade e cabelos vermelhos como o fogo. Se não bastasse toda essa assustadora descrição, o pequeno demônio da floresta ainda tinha ambos os pés voltados para trás.

Sem dizer uma única palavra, aproximou-se da menina, enquanto o porco do mato dava passos para trás, obedecendo à ordem de seu dono. Viu a cesta com frutas, tapioca e tacaca. A oferta havia sido feita, cabia a ele decidir se aqueles dois jovens seriam ou não merecedores de sua ajuda. Estendeu a mão à Eirapuã, que levantou encarando o demônio, sem temê-lo, diferente do que acontecia com Naara, que seguia estático, paralisado de medo.

O Curupira nada dizia, fitava a menina nos olhos enquanto lia seus pensamentos. Ela precisava de ajuda, todos os que restaram da aldeia precisavam. A aflição e o coração puro da indiazinha foram a senha que o demônio precisava para ajudar a salvar também sua floresta. Ele os ajudaria. Naara aproximou-se e o Curupira acenou com a cabeça para que ele conduzisse Eirapuã até os seus, pegou a cesta de oferendas, montou em seu porco do mato e partiu em velocidade para do interior da floresta.

A indiazinha correu e abraçou Naara, que insistia em não acreditar naquilo em que seus olhos acabaram de ver. Ela havia conseguido a ajuda que precisavam. Restava agora saber se o preço pago pelo auxílio seria só as oferendas, ou se mais tarde o demônio retornaria para cobrar algo a mais. Voltaram para o acampamento e adormeceram, sem que percebessem suas ausências.

Geraldo tomava café junto aos outros funcionários, quando Pereira apareceu relatando que algo estranho aconteceu no terreno durante a noite. Nenhum trator tinha combustível e todas as ferramentas haviam sumido. O encarregado logo pensou nos índios que não foram exterminados, afinal, quem mais teria a ousadia de interferir no empreendimento do senhor Camargo? Ele juntou os homens e saiu em busca das ferramentas, deixando com Pereira a incumbência de comprar óleo diesel na cidade, colocando os tratores novamente em funcionamento.

Andando pela floresta, os homens foram encontrando uma a uma as ferramentas perdidas, todas presas no alto das árvores, quem lá as colocou tinha uma exímia habilidade em andar sobre os galhos. Não perderam tempo e recolheram a maioria, deixando para trás as que não estavam à vista. O dia estava perdido, e logo que soube do ocorrido, o senhor Camargo deixou claro que não pagaria a nenhum peão pelo dia de trabalho.

– Escuta aqui Geraldo, eu estou pouco me importando se todos perderam o dia em busca das ferramentas. Eles não estavam trabalhando. O problema não é meu se ninguém ficou atento ao acampamento permitindo que aqueles selvagens sumissem com o material. Achei que já tínhamos resolvido esse problema – esbravejou o senhorio ao telefone.

De fato, ele tinha razão, mas Geraldo sabia que a notícia não cairia nada bem no acampamento. Dito e feito, assim que comunicou a todos que o dia estava perdido, foi uma reclamação sem fim. Alguns homens deixaram o serviço e se recusaram a continuar trabalhando.  Agora, além de ter perdido o dia e parte das ferramentas, Geraldo perdeu também parte da mão de obra. O prazo seria afetado com toda certeza e o senhor Camargo não ia aceitar desculpas.

No dia seguinte, mais uma vez, Pereira trouxe más notícias. Um dos tratores havia sumido do acampamento e dessa vez alguma coisa precisava ser feita.

– Pereira, você só pode estar de sacanagem, nós temos três tratores, como um deles simplesmente desaparece? Tem noção de quantos homens são necessários pra levantar uma máquina dessas e levar embora? Nem devem ter restado tantos índios assim para carregar um monstro daquele. Como você explica uma porra dessas? – disse Geraldo, já sem paciência também.

Pereira não tinha o que dizer, era realmente inexplicável, até porque, os homens revezaram acordados durante a noite para tomar conta de tudo, como era possível que não tivessem visto um trator sendo carregado para o meio da floresta? Os homens não podiam perder mais um dia de trabalho e Geraldo deixou a cargo de Pereira localizar o trator sozinho para que pudessem tomar as medidas cabíveis.

Enquanto os homens continuavam a abrir caminho por entre as árvores, Pereira seguia mata adentro tentando localizar o trator perdido. A tarefa não seria difícil, quem conseguiria ir longe com uma máquina daquele tamanho? Para sua surpresa e espanto, o trator estava preso entre os galhos das árvores, em uma altura de cerca de vinte metros. Era preciso um avião para colocar aquilo lá em cima. Como os índios conseguiram tal feito? Sem ajuda, aquilo era humanamente impossível.

Retornou ao canteiro de obras para contar o que encontrou. No meio do trajeto percebeu que tinha algo estranho na floresta. Por mais que tentasse voltar pelo mesmo caminho que fez até ali e conhecendo muito bem aquelas terras, tinha sempre a impressão de que estava andando em círculos, voltando ao ponto de partida. Ele não conseguia mais encontrar o caminho de volta. O tempo foi passando e Pereira estava cansado. Andava por horas e horas e, sempre voltava à estaca zero. Não passava por um único lago ou nascente, estava com sede e com fome, e a única coisa que conseguia encontrar eram árvores e mais árvores, nenhuma com frutos ou água empossada entre os galhos.

Com a demora em seu retorno, Geraldo começou a ficar preocupado e mandou mais três homens à sua procura. Escolheu os mais experientes, que saberiam se virar bem no meio da floresta. Eriberto, Afonso e Manuel haviam de encontrar Pereira em algum lugar. Munidos de espingardas, os três estavam prontos para dar fim no primeiro índio que encontrassem pela frente. Tentavam seguir os rastros de Pereira, mas estavam confusos com os sinais que encontravam. Junto às suas pegadas, havia outras, que seguiam no sentido exatamente contrário ao dele. Eram pés menores e descalços, contrastando com as pegadas fundas feitas pelas botas pesadas do peão.

Andaram por horas e não encontraram Pereira. Ficaram encucados com a situação. As pegadas do peão sempre voltavam para o mesmo lugar, enquanto as pegadas do “menino” faziam exatamente o caminho inverso, contudo, assim como as outras, indo e vindo para o mesmo lugar. A trilha deixada para trás não fazia sentido algum e só os confundiam. Quando já pensavam em desistir, ouviram a voz de Pereira os chamando. O nome de cada um deles era dito, mas, o som dava a impressão de vir de lugares distintos da floresta.

– Eriberto… Afonso… Manuel – ouviam sem ter certeza de onde o som era proferido. Ficaram com medo de se separar e ir em busca do companheiro perdido. E se sozinhos também se perdessem e não encontrassem o caminho da cidade? Estava anoitecendo, os perigos da floresta só aumentavam com a escuridão. Aquilo não era normal, não havia como o som partir de lugares diferentes, quase que ao mesmo tempo. Estariam tendo alguma alucinação? Mas, os três ao mesmo tempo?

Decidiram voltar ao acampamento. Era o melhor a fazer e retornar às buscas na manhã seguinte. Enquanto caminhavam em direção à cidade, voltaram a ouvir seus nomes. Dessa vez, o som vinha do mesmo lugar. Só podia ser o Pereira. Correram na direção do som, atrás de uma grande árvore. Ao circularem o tronco, se depararam com um filhote de paca, que os olhava sem nenhum espanto. Não tentou correr, não se escondeu. Sequer se movimentou. Estática, a pequena paca assustou a todos quando balbuciou um pedido de ajuda:

– Me ajudem, não sei o que está acontecendo – disse o pequeno animal.

Manuel fazia o sinal da cruz, enquanto Eriberto assistia Afonso correr sozinho em direção à cidade para fugir daquela assombração. O que era aquilo? Uma paca falando como gente, e pior, com a voz do Pereira? Manuel seguiu o rumo de Afonso e também correu o mais rápido que pôde para longe daquela aberração. Eriberto apontou a espingarda em direção ao filhote: – Vade retro Satanás! – e se preparou para atirar quando sentiu uma pancada forte na cabeça, desmaiando em seguida, sem ter ideia de quem seria o agressor.

Afonso ouviu Eriberto esbravejando e não olhou pra trás. Seguiu correndo em direção à cidade quando tropeçou em um galho esfolando o peito no chão. Ao se levantar, limpou o pouco de terra e as folhas que havia em sua blusa quando ouviu uma voz conhecida:

– Não adianta fugir, ele também vai te pegar – olhou para trás e a maldita paca estava há poucos metros, com o olhar fixo. Um silvo alto veio em seguida, na direção contrária e uma pancada no rosto provocou seu desmaio.

O mais religioso entre eles era Manuel. Não havia um único domingo em que não estivesse com a família na paróquia do bairro. Estava se “borrando” de medo e desistiu de correr quando percebeu que seria incapaz de encontrar a saída da mata. Sentou-se junto ao caule de uma grande árvore. Se pudesse se esconderia dentro dele. Rezava o Pai Nosso sem parar e pedia para que Deus não permitisse que fosse tocado pelo demônio.

Enquanto choramingava, Manuel reparou em três pequenas pacas correndo juntas e farejando, como se procurassem por algo. Ele tremia, sabia que se o descobrissem teria o mesmo fim dos companheiros. Não teve muito tempo mais para se preocupar com os filhotes. Sentiu uma mão pousar em seu ombro e se arrepiou da cabeça aos pés.

– Então vocês achavam que poderiam vir até aqui e destruir minha floresta? – questionou o Curupira, mostrando os dentes pontiagudos e brilhosos.

O homem só tremia e tentava balbuciar alguma coisa, talvez pensasse em implorar por sua vida, mas não estava escalado para o óbito, seria mais uma ferramenta contra o progresso daqueles que investiam contra a terra e contra a comunidade indígena.

– Vá até o acampamento que abriga os nativos.  Encontre Naara e avise que esta noite ele se tornará o responsável por guiar seu povo de volta a floresta.  Com a ajuda da pequena indiazinha tudo será reconstruído – disse o Curupira antes de soprar um pó amarelo em direção ao rosto do homem, que apagou por cerca de dez minutos antes da transformação que o uniu aos seus companheiros.

Naara conversava com a pequena Eirapuã sobre tudo que havia acontecido. Estavam receosos quanto às intenções do Curupira, mas não havia mais solução, menos ainda um aliado que pudesse ajudá-los em sua já perdida guerra. Enquanto conversavam, perceberam a aproximação das quatro pequenas pacas.

– Jovem guerreiro, essa noite vocês precisam estar prontos. Chegou a hora de retomar sua terra, juntem todos que puderem estar nessa luta. A ajuda chegará – disse uma das pacas. Naara não acreditava no que via, mas sem muito pensar respondeu ao animal.

– Não há mais ninguém, sou o último homem adulto da minha aldeia, só restam mulheres e crianças, qualquer investida será uma tentativa de suicídio, eles são mais de trinta homens armados.

– Confie na mãe Terra meu jovem. Se não há mais outros guerreiros, seja mais forte do que já foi até o momento e prepare-se sozinho para a guerra. Você pediu a ajuda de uma das entidades que seus ancestrais mais temiam, um demônio como chama e, o protetor da floresta vai ajudá-lo – encerrou a paca antes de correr ao lado de seus “irmãos” para a floresta.

Sem conversar com os outros membros da tribo, Naara sentou-se a beira do lago e passou o resto da tarde pensando, atirando pedrinhas e vendo-as quicar sobre a calmaria das águas. Ele era jovem, não havia sido preparado para aquela situação, mas era a última esperança de sua tribo. Ao anoitecer, levantou-se e decidiu enfrentar seus medos. Chamou Eirapuã e pediu que ela o ajudasse na preparação.

A jovem índia pintou seu rosto e seu peito, como faziam os antigos, deixando claro ao inimigo que a guerra estava anunciada. Ele pegou seu arco e algumas flechas, despedindo-se da pequenina e indo em direção ao acampamento. Antes de partir, discursou:

– Eirapuã, eu fiz tudo que podia pra proteger e defender minha terra e meu povo. Sei que falhei, ainda que não tenha falhado sozinho. Você me fez ter esperanças novamente quando pediu ajuda ao Curupira, contudo, não acredito de fato que eu saia vivo dessa batalha. Se cuide, cuide dos menores e vá para longe daqui, é preciso recomeçar, aqui não é mais o nosso lugar.

– Não Naara, eu confio em você, estaremos sempre juntos nessa e em outras batalhas, você é o meu irmão, meu mentor, não deixarei que desista e aqui é a nossa casa, ainda estamos lutando por ela e não vamos embora – disse a indiazinha com lágrimas nos olhos enquanto abraçava o irmão. O jovem guerreiro partiu sozinho em direção ao acampamento, usando apenas uma pequena tanga, e pintado como um soldado, carregando sua arma.

Era por volta da meia noite e todos dormiam no acampamento. Naara montou um pequeno ninho de palha em diversos pontos daquela vasta área. Esfregou um graveto sobre algumas folhas montando uma tocha e, depois, acendeu cada uma daquelas trincheiras, fazendo um grande círculo de fogo em volta do acampamento.

Assustados, os homens de Camargo deixaram suas tendas e viram aquele cenário que mais parecia um ritual de magia negra. Eles não podiam avistar o inimigo, só havia fogo e fumaça a sua volta. Geraldo ordenou a todos:

– Encham os baldes, peguem toda a água que puderem, vamos apagar esses focos antes que o incêndio chegue ao acampamento.

Assim que começaram a correr para lá e para cá para apagar o incêndio, Naara iniciou o ataque que estava por começar. O primeiro homem caiu estatelado no meio do acampamento com um balde na mão e uma flecha atravessada ao pescoço. Geraldo viu a cena e se desesperou. Seus homens não voltaram da floresta e agora estavam sendo atacados. Sacou o celular e ligou para Camargo pedindo ajuda, o dono da empreiteira pediu que o homem ficasse calmo e avisou de que estaria a caminho com a força policial.

Mais dois homens caiam ao chão com flechas atravessadas ao pescoço quando Geraldo enfim pôde avistar quem estava atacando, sacou o 38 e iniciou os disparos em direção a Naara. O índio corria em círculos, dando voltas no acampamento, enquanto atirava suas flechas. Sentiu um dos tiros perfurar seu braço esquerdo. O jovem guerreiro parou de correr e viu o braço jorrando sangue, não havia mais como usar o arco e flecha e, decidiu fugir, retornando à floresta. Enquanto corria em direção a mata, Geraldo disparou mais um tiro certeiro, dessa vez na batata da perna e o índio acabou por cair deitado ao chão.  – Agora você vai ver, filho de uma égua – esbravejou Geraldo, já apontando a arma para sua cabeça. Quando se preparava para apertar o gatilho, dando fim à vida de Naara, uma flecha foi disparada e atravessou-lhe o crânio.

Eirapuã saltava dando socos ao ar, comemorando o lançamento perfeito. Os outros peões que acompanhavam Geraldo não acreditavam que a pequena indiazinha havia salvado Naara dando um triste fim a Geraldo. Aos poucos, todas as mulheres e crianças da aldeia apareceram com seus arcos, flechas e lanças, atacando os peões. Naara sorriu ao ver toda a tribo sendo liderada pela pequena indiazinha.

Aos poucos, quase todos os peões caiam diante da resistente tribo dos Kaiowás. Eles não estavam preparados para a guerra, Geraldo costumava guardar as armas, e o máximo que tinham agora eram baldes em suas mãos. Naara incrédulo assistia a batalha sendo vencida, contudo, a guerra ainda não havia terminado.

O barulho das sirenes alertou a todos que a polícia havia chegado e junto com ela, o empreiteiro e o prefeito. A equipe policial não chegou para conversa. A ordem era matar todos os que se opusessem ao “progresso” da cidade. E assim foi. Os policiais já desceram da viatura atirando, sem se preocupar se eram apenas mulheres e crianças. Era uma frota de quarenta homens, todos armados. Não havia a menor chance para os Kaiowás, mesmo que Naara não estivesse fora de combate.

Algumas mulheres entraram na frente das crianças, com a finalidade de protegê-las e antes que fossem atingidas ouviram um grunhido aterrorizante. O Curupira, montado em seu cateto, empunhava uma lança enquanto liderava os mais temidos animais de nossa fauna. Cerca de trinta onças pintadas atacaram ferozmente os policiais, que não tiveram reação diante da situação até então inconcebível.

Os homens do batalhão tentavam se livrar das onças como podiam, mas tinham os braços arrancados ou os pescoços destruídos. Os índios se aproveitaram da situação para lançar flechas contra eles, derrubando os policiais. O ataque dos felinos era uma verdadeira carnificina. Em poucos minutos, Camargo assistiu a todos os peões que restavam estraçalhados ao chão. O prefeito sem saber o que fazer, foi mais rápido e entrou em sua Pajero fugindo do local de combate.

Camargo pensou em fazer o mesmo. Apavorado, correu pelo acampamento em direção a uma viatura, se afastando de todos. Calculou que talvez pudesse chegar ao carro sem ser atacado por uma das onças ou por um dos índios. Corria sozinho quando avistou o Curupira cavalgando em seu cateto prestes a alcançá-lo. O demônio soltou sua lança e grunhiu novamente, segurando com vontade no pelo do animal que o carregava. Com apenas uma cabeçada, o cateto arremessou o homem cerca de um metro a frente e antes que pudesse levantar-se do chão sentiu o Curupira cravando-lhe os dentes, arrancando-lhe a jugular e o último suspiro.

Nenhum homem da cidade sobreviveu àquela noite. O episódio foi o maior massacre que já se viu por aquelas bandas. O Curupira cumpriu sua promessa e exigiu que Naara desse continuidade à aldeia, cuidando da terra e fazendo com que a floresta voltasse a ocupar o lugar de onde não deveria ter sido arrancada.

A assessoria de imprensa da prefeitura emitiu uma nota informando que as obras estavam encerradas e que as terras seriam devolvidas aos Kaiowás. Segundo a mesma, a empreiteira estava extraindo madeira de forma irregular, desmatando além do combinando e, quando os policiais apareceram para prender todos os envolvidos no processo, foram recebidos à bala, um tiroteio que gerou todas as mortes. O prefeito não tinha interesse em afastar turistas com uma chacina e menos ainda em ser considerado louco por tudo que viu. Também não era de bom tom voltar a enfrentar os índios daquela aldeia e o seu guardião.

A história inventada pelo prefeito foi confirmada por quatro homens que diziam ter sobrevivido ao ataque, ao voltar para casa três dias depois: os peões Pereira, Eriberto, Afonso e Manuel, que também desejavam seguir suas vidas sem passar para frente tudo o que havia ocorrido com eles nos últimos dias.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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