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Foto: Mauro PIMENTEL/AFP

Os números esdrúxulos de uma intervenção de fachada

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A intervenção militar na cidade do Rio de Janeiro não atendeu as expectativas de seus defensores, ainda que aparentemente, muitos deles tentem justificar o que não tem justificativa. Já era indefensável antes mesmo do início das operações. Militares são presença constante na cidade há anos, assim como são em nossas fronteiras, e o resultado sempre foi pífio, não mudaria agora. Caso queira saber um pouco mais sobre a ineficiência da presença de nossos militares na cidade, leia o texto que publiquei em março: A intervenção militar no Rio de Janeiro e a pulga atrás da orelha.

Três meses após o início das operações, nenhuma ação dos militares foi digna de aplausos. Não houve uma grande apreensão de drogas, grandes chefes do tráfico não foram presos, as milícias seguem atuando sem maiores restrições e a população cada vez mais sitiada. Se faltaram números positivos, não faltam estatísticas negativas, e pior, tivemos operações que foram um grande fiasco e serviriam perfeitamente de roteiro, para qualquer cineasta produzir um bom filme de comédia.

Em uma operação da polícia civil (sob o comando de um interventor militar), apontada como o maior golpe contra a milícia, na zona oeste do Rio de Janeiro, foram apreendidos 25 fuzis e 15 pistolas, e 153 pessoas foram presas durante uma festa em um sítio, que era utilizado como quartel general por milicianos. Segundo o Secretário de Segurança Pública, o general Richard Nunes, a operação foi um grande sucesso:

“A sociedade pode confiar na intervenção federal. Outras operações já estão sendo planejadas e serão executados em curto prazo. O Rio precisa voltar a ser uma terra feliz, de um povo feliz, trabalhador”

Dias depois, o juiz Eduardo Marques Hablitschek, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, revogou a prisão preventiva de 137 dos 159 presos na operação, porque não havia prova de que a maioria dessas pessoas tivesse qualquer ligação com milicianos. Se Hollywood tiver interesse em fazer um novo filme para a franquia “Loucademia de Polícia”, já sabem onde procurar inspiração.

 

 

Todos os índices relevantes de violência aumentaram de maneira assustadora no Rio de Janeiro. Foi registrado o aumento de 2309 tiroteios (ou disparos de arma de fogo) na região metropolitana, com uma média de 25,9 por dia, um aumento expressivo de 25,3%, segundo o Fogo Cruzado, que é um laboratório de dados sobre a violência armada. As denúncias de agressões contra população LGBT cresceram 66% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o ano anterior. Os números de estupros aumentaram consideravelmente, segundo dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Em relação ao ano de 2017, houve um aumento de 17,6% desse crime bárbaro, e como se não fosse suficiente, o número de chacinas dobrou na cidade.

Recentemente, o Congresso Nacional aprovou o “remanejamento de verba” do orçamento para a criação de 231 cargos para o gabinete do interventor federal e para o Ministério Extraordinário de Segurança Pública. Todos os cargos serão comissionados, 67 deles serão alocados no gabinete do interventor e, os demais, no ministério. Inacreditavelmente, os cargos foram criados para atividades de direção e assessoramento, nenhum para aumentar o efetivo nas ruas.

A contrapartida para a criação desses cargos foi a extinção de vagas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Resumindo, uma intervenção de fachada, com resultados esdrúxulos, sendo utilizada pelo governo ilegítimo para criar cargos comissionados, que serão utilizados como moeda de troca, às custas da diminuição do orçamento para o IPHAN.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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