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Cracolândia: combate às drogas ou higienização?

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Não existem dúvidas de que algo precisa ser feito para resolver o problema com usuários de droga no centro da cidade de São Paulo. Eu sou morador e empreendedor na região, e tenho certeza de que a revitalização da mesma traria benefícios a todos. A questão é antiga e a negligência de várias gestões idem, pouco foi feito para coibir a venda de drogas e apoiar dependentes químicos na Cracolândia.

A solução para o problema não é simples, especialistas de áreas distintas opinam de diversas maneiras sobre a questão, mas uma opinião é unânime: a ação da prefeitura no último domingo foi desastrosa. Sem qualquer planejamento ou consulta aos secretários de direitos humanos e de saúde, a prefeitura montou uma ação policial na região, em plena Virada Cultural, fechando estabelecimentos, prendendo traficantes e expulsando os moradores de rua.

Em paralelo, deu fim ao programa “Braços Abertos” implantado pela gestão anterior, com o slogan “Crack: é possível vencer”. O programa tinha por objetivo construir uma rede de serviços para atendimento aos usuários de crack, oferecendo moradia, emprego e outros serviços aos moradores de rua. Como se não bastasse a ação truculenta de policiais, a prefeitura ainda iniciou a demolição de um abrigo sem avisar os moradores, os quais ainda se encontravam no interior do imóvel.

Indubitavelmente, apenas a existência do programa “Braços Abertos” não resolveria o problema, mas era o primeiro passo de uma série de ações que a longo prazo poderiam dar fim a uma situação degradante que nos envergonha como seres humanos, mas que na maior parte do tempo ignoramos, mantendo-os como páreas em nossa sociedade.

Sem poder retornar à Cracolândia, e sem encontrar vagas em abrigos públicos e clínicas de recuperação, os usuários de crack se encontram espalhados por todo o centro da cidade, em mais de vinte regiões, desde o elevado João Goulart, conhecido como “Minhocão” à Av. Paulista, criando caos e insegurança aos residentes e comerciantes, além de dificultar o trabalho dos agentes de saúde para apoio aos dependentes químicos. Mesmo sem vagas nas clínicas públicas, a prefeitura solicitou à justiça internar de forma compulsória usuários de crack, entregando uma lista de médicos que seriam responsáveis pelas avaliações dos casos. Muitos desses profissionais sequer foram consultados e solicitaram a retirada de seus nomes da lista. A história nos ensina o que costuma acontecer quando alguns gestores decidem internar pacientes contra suas vontades determinando quem deve ou não estar recluso.

Para parte da população isso é indiferente, o importante é que os usuários de crack desapareçam, se puderem morrer, ainda melhor, não estão preocupados com seus semelhantes, afinal, “é tudo bandido”. Acho sempre curioso como são afeitos ao extermínio os habitantes desse país dito cristão. Também não se preocupam, e nem se questionam, como e porque as drogas atravessam as nossas fronteiras, se espalham pelo país e são vendidas a céu aberto diariamente sem o combate efetivo por parte de nossos governantes. Temos até helicóptero de político sendo apreendido com meia tonelada de cocaína sem que nenhum figurão tenha ido para a cadeia. Enquanto isso não for resolvido, não for combatida a fabricação, distribuição e venda de entorpecentes, outros usuários surgirão, e nem com um holocausto tupiniquim, daremos fim às Cracolândias que tanto nos incomodam. E olha que nem entrarei na questão da legalização.

Resta saber se as ações da atual gestão, ainda que equivocadas, estariam de fato focadas no combate às drogas, ou se teriam por objetivo a higienização da área, para que se possa colocar em prática o projeto de intervenção urbana chamado de “Nova Luz”, que se inicia ao lado do quarteirão onde se estabeleceu a Cracolândia. A “Nova Luz” tem projeto urbanístico do arquiteto Jaime Lerner, contratado (sem licitação) pela atual gestão e que já havia proposto um projeto para a região da Cracolândia, em conjunto com o mercado imobiliário. Para aqueles que não o conhecem, Jaime Lerner foi prefeito de Curitiba por três vezes e também governador do Paraná. Hoje é filiado ao DEM.

OBS: A fotografia utilizada para ilustrar este artigo foi tirada por mim nesta manhã. A Praça Princesa Isabel, uma das novas “franquias” da Cracolândia pela cidade, que há uma semana contava com um ônibus plotado com a inscrição “Crack: é possível vencer” servindo de posto policial, hoje tem centenas de dependentes químicos, lojas fechadas, insegurança e o livre comércio de pedras de crack por R$4,00.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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Um comentário

  1. Olá Rodrigo, seus escritos sobre a necessidade de se fazer alguma coisa e o que tenho sido feito pelo prefeito de São Paulo é excelente porque mostra a grandeza do problema e o modo como as pessoas acham que podem resolver. No Rio de Janeiro não tem sido diferente. Mas sempre que considerarmos usuários de drogas bandidos a estratégia será sempre estapafúrdia, sem solução e aautoritária. A solução é muito mais difícil que se possa imaginar, por isso o maior cuidado ainda será muito pouco.

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