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Tinha que ser o Chaves…

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Sim é verdade, escrevo esse texto com um certo atraso em relação ao falecimento de Roberto Bolaños, ocorrido na última sexta-feira. Demorei em fazer porque li e reli por aí tudo que falaram sobre o fato, desde a comoção e tristeza por parte dos fãs, até o descaso total por parte daqueles que não viam graça no famoso seriado.

Eu estou junto da turma que nunca viu muita graça no programa do Chaves. Ria de uma bobeira ou outra, principalmente com o Chapolin Colorado, que confesso, me atraia mais que a turma do Chaves em si.  Mas entre não achar graça e desmerecer o sucesso mundial que o programa faz  apenas para desdenhar daquilo que não está entre os meus favoritos no humor, vai uma longa distância. Criado em 1971 e exibido no Brasil desde 1984, o programa atravessou gerações com seu humor simples e inocente, agrando o mais diverso tipo de público, desde os meninos, que como eu, cresci na década de 1980, como o meu avô que ria diariamente das mesmas piadas repetidas insistentemente pelo SBT em sua grade de televisão.

Mais do que um humor inocente, o programa do Chaves levou, da América Latina para o Mundo, o idealismo de que é preciso olhar com mais atenção às crianças pobres, moradoras de rua, que precisam de amor, tanto quanto a mais abastada das crianças, isso fica explícito na relação entre Chaves e Kiko. Chaves, o personagem mais carismático, era um menino órfão de oito anos, com origem desconhecida, que tinha sonhos e desejos simples, como um sanduíche de pão com presunto, morava em um barril no pátio de uma vila e, ainda assim, levava uma vida extremamente feliz.

A simplicidade da trama não reflete de fato sua complexidade. A inspiração do personagem veio de Diógenes (412-323 a.C.), que é apontado como o filósofo que menosprezou os poderosos e as convenções sociais e, era assim como os demais  “Cínicos” desapegado ao poder econômico e levava a vida da forma mais simples possível. A doutrina Cínica, criada por ele, renegava a civilização. Diógenes pregava que o que importava para os homens de bem eram suas ideias éticas, tendo como vida aceitável aquela associada à natureza, onde todo o resto era tratado como inutilidade. Visando demonstrar seu desapego pelo que é material e pelas convenções sociais, Diógenes tinha como casa justamente um barril e usava farrapos como vestimentas.

Chaves, assim como Diógenes, pregava valores reais como amizade, companheirismo, desprendimento e a felicidade de viver pelo que é simples, moral e ético. Alguns podem até dizer que é apenas uma coincidência a relação entre ambos, mas eu não acredito que tudo “foi sem querer querendo”, para mim Bolaños foi um gênio, merece todo o nosso respeito e consideração, sua obra encantou crianças do mundo inteiro e deve ser respeitada como tal.

Bolaños merece aplausos por si só, por sua obra e por sua criação, mas se formos fazer alguma comparação, se é preciso termos de fato um Charles Chaplin latino, esse…

Tinha que ser o Chaves!

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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