Nos últimos cinco anos eles mal se falaram. Era interessante notar que havia mais tempo de separação do que houve de casamento. Leandro levou sua vida normalmente, mas a verdade é que nunca se conformou com a partida Júlia.
Volta e meia ele se pegava pensando no momento em que a conheceu na Faculdade. Felipe, um colega de classe, o chamou para sair com duas amigas, na esperança de formar dois casais. Ele era muito amigo de Bruna e tinha interesse em Júlia. A intenção era de que Leandro se relacionasse com Bruna e o ajudasse na tentativa de conseguir ficar com Júlia.
Desde o primeiro instante em que se viram, ficou claro que o plano de Felipe não daria certo. O interesse mútuo de Leandro e Júlia jogou um balde de água fria na tentativa de formar dois casais. Felipe e Bruna nunca conseguiram mais do que conversas com os outros dois.
Logo o flerte se tornou em beijo e, o beijo em romance. Passaram anos juntos, viveram os melhores momentos de suas vidas e sonharam que tudo seria pra sempre. Mas como diz a música, o “pra sempre”, sempre acaba. E acabou. As diferenças eram grandes, e mesmo com o amor que parecia ser infinito, não houve mais espaço para uma vida em conjunto. Júlia se foi deixando para Leandro apenas o vazio que se formou no apartamento.
Não foi fácil para Júlia, tampouco para Leandro. Os primeiros dias foram muito difíceis, tanto para ela na casa de seus pais, quanto pra ele sozinho em casa, ainda cercado pelas coisas e pelos sonhos do casal. E como tudo na vida, o tempo deu conta de levar a tristeza embora, substituindo a ausência por novos amores e o vazio pela saudade.
Naquela manhã, Leandro pensou em se vestir de forma despojada, mas decidiu se arrumar com um estilo mais formal. Fez exatamente o mesmo ritual do dia em que seguiu na direção daquele cartório para se casar com Júlia. Passou a camisa social em cor escura, fez a barba, tomou um banho de água quente, se perfumou e vestiu-se para sair.
Pegou um táxi, o mesmo roteiro de anos atrás, mas da última vez Júlia estava com ele no carro, estavam felizes e juntos dividiam os sonhos de um futuro a ser escrito. Olhava as ruas, as pessoas transitando sem preocupações, as avenidas e viadutos, e relembrava cada instante do dia em que jurou para si que ficaria para sempre ao lado de Júlia.
Nesses anos muita coisa mudou, Leandro estava diferente, não era mais o sonhador daquele tempo. Profissionalmente estava melhor, assim como Júlia, que além de uma vida mais abastada, morava com seu novo amor, e precisava do divórcio para que pudesse se casar novamente, tentando realizar o sonho de ser feliz para sempre, que não conseguiu ao lado de Leandro.
Ao chegar ao cartório, Júlia estava ali, linda como sempre, aguardando sua chegada. O cumprimentou com dois beijos no rosto e um sorriso sem graça, demonstrando todo o constrangimento que aquela situação proporcionava. Deram entrada com os documentos, e aguardaram a chamada para assinar o fim daquele casamento.
Enquanto aguardavam, tentaram trocar algumas palavras, mas havia pouco o que dizer naquele instante, eles só queriam que tudo acabasse logo. Foram chamados e o juiz perguntou se era mesmo o que eles queriam. Leandro olhou para Júlia como se perguntasse se era realmente o fim, ela acenou com a cabeça e ambos assinaram o destrato.
Ao sair do cartório, Júlia estendeu-lhe a mão e desejou boa sorte. Leandro fez o mesmo e seguiu em direção oposta. Poucos metros à frente, olhou para trás e a avistou parada, observando sua partida. Voltou para perto dela e disse:
– Esse não era o combinado, o combinado era ficarmos juntos pra sempre. Foi isso que você me prometeu, ficar ao meu lado pra sempre.
Júlia sorriu e respondeu antes de se virar e partir:
– O combinado e o prometido, era te amar sempre e isso eu continuo cumprindo.