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A noite de Natal

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Naquela noite, os sonhos estavam diferentes, era véspera de Natal, mas ao contrário do que acontecera nos últimos anos, faltava algo para que ele se sentisse completo. Abriu uma garrafa de vinho e sentou-se a frente da lareira. Olhava as fagulhas e a sombra que se criava ao fundo com o balançar das chamas. O calor aquecia o vazio que habitava em sua alma.

Ergueu a taça que segurava em uma das mãos e deu um gole no vinho tinto que abriu para lhe fazer companhia, enquanto se aquecia ali sozinho. Lembrou-se dos últimos anos e do presente que mandara entregar para ela naquela noite. Queria que mesmo com a distância, ela se lembrasse de todo o carinho e amor que ele sentia por ela. O ardor do álcool percorrendo sua garganta acalentava a dor que consumia seu peito. Era preciso se embebedar, sair de órbita, se sentir distante daquele momento, daquela distância toda. Como se manter sóbrio e encarar o que a vida havia lhe furtado?

Ele se sentia pela metade, mais do que isso, era como se o ar lhe faltasse com sua ausência. Desde que a viu pela primeira vez, desejou que todos os seus dias fossem em sua companhia. Era ela quem lhe faltava e nenhuma presença seria capaz de preencher a ausência que carregava consigo. A dor daquela noite representava bem o que agora levava em sua vida, a distância da mulher que lhe fez entender que nada mais faria sentido desde que surgiu.

Era engraçada a sensação de viver em função de outra pessoa. Todas as mulheres que passaram por sua vida não tiverem nem um quinto de sua devoção. Tudo agora era em sua razão, o único objetivo de viver, era viver ao seu lado, com intuito de fazê-la feliz. A distância era como um câncer, que lhe consumia, que lhe queimava por dentro como se a cada dia lhe tirasse aos poucos o prazer de sorrir. Porque não havia mais motivos para sorrir sem ela.

Trocaria todos seus bens, suas escolhas e todos os seus pecados para poder estar com ela naquela noite. As músicas, os sons e os mil tons, os ares e os pesares, todos os beijos e alcovas, para apenas adormecer em seus braços. As lágrimas iluminavam e hidratavam seu rosto, seus olhos produziam a mais pura seiva de seu sofrimento. Nada podia calar seu choro, somente sua presença, como acontecera nos anos anteriores, em que ela iluminava e alimentava sua alma. Não seria capaz de desejar nem ao seu pior inimigo a ausência de seu único e verdadeiro amor, da mulher que lhe ensinara a enxergar o mundo por outro prisma, por uma nova ótica em que ele não era apenas um homem, mas o seu super-herói.

Não se fazia necessário vinho, a casa, menos ainda a lareira. Era-lhe irrelevante à noite e a brisa. Ele só queria a felicidade e a presença de sua filha Heloísa.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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