Certa vez quando menino, correndo com amigos caí no chão. Naquele instante não havia ninguém que pudesse me aparar e me impedir de cair, menos ainda para pegar minha mão e me ajudar a levantar.
Voltei pra casa com os joelhos ralados, sangrando, e sentia dores. Assim que cheguei, meu pai abriu a porta, sorriu a me ver, e me ajudou a fazer curativos, cuidando de mim.
Tempos depois, ele me disse que quando abriu a porta e viu em meu rosto o medo, a dor, lembrou-se de quando era criança e se machucou, viu em meu rosto, o seu rosto quando menino.
Cresci me lembrando desse dia, e sempre pensei: Será que um dia vou ver no rosto de alguém o meu rosto também?
No instante em que a Heloísa nasceu, na sala de parto, eu fui a primeira pessoa que ela olhou, os olhos firmes, amendoados, rasgados como os meus, me acompanhavam pela sala, como se dissessem: – Eu sei quem é você, é o meu pai.
Ali foi a primeira vez que vi no rosto da Heloísa o meu rosto refletido, e isso se repetiu diversas vezes, nos mais variados momentos. Aprendi com minha filha, não a ser pai, aprendi com a minha filha a ser filho do meu. Quando descobri que amava mais a Heloísa que a mim mesmo, descobri o que eu representava para o meu pai.
Nem sei se gosto mais de ser filho do meu pai, ou de ser pai da Heloísa, mas sei que sou muito feliz, por ver que o espelho nunca se quebrou.
Nesse dia dos pais, não estou nem perto do meu pai, nem perto da minha filha…
Mas estou aqui com a certeza que nasci pra ser pai da Heloísa, assim como nasci para ser filho do Gercilí Barros