Ao negro cabe a barriga vazia,
Não se pode lutar por liberdade.
Driblar a fome não lhe cabia.
Ousou ser a voz da diversidade.
Quis ser política, mestre e cientista,
Sair da Maré sem esperar sequela.
Arriscou ser mais do que cotista,
Livrando-se dos grilhões de uma favela.
Do preto só se espera temer a polícia,
Lutar por direitos é invenção,
Deve dormir sob o domínio da milícia,
Ao invés de fiscalizar Intervenção.
Calou-se a resistência pela rua,
Um disparo que a vida silencia.
A certeza desponta nua e crua,
O terrorismo, a cidade evidencia.
Apenas o lamento, não acalanta,
A execução emudece a labuta,
Tragaram a dor da filha da santa,
Deixando-nos com o filho da “outra”.
Voltamos a beber dessa bebida amarga,
O cálice impulsiona o bumerangue,
Que afastem de mim o horror da farda,
E do vinho tinto de sangue.