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Quando o uso de recursos eletrônicos no futebol valerá para todos?

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A primeira vez em que me lembro de ter visto alguma polêmica no Brasil sobre o uso irregular dos recursos eletrônicos no futebol foi no campeonato brasileiro de 2012. Na ocasião, o Palmeiras perdia por 2 a 1 para o Internacional, no estádio Beira Rio, quando o atacante Barcos empatou a partida. O gol foi validado pelo árbitro Francisco Carlos Nascimento. O jogador comemorou, seus companheiros comemoraram, a torcida comemorou e quase cinco minutos depois do lance decisivo, o arbitro resolveu voltar atrás, anulando o tento sob a alegação de que o gol havia sido feito com a mão. De fato, o lance era irregular, mas de onde ele tirou essa informação? Inspiração divina cinco minutos depois não foi.

O árbitro acabou por admitir à TV Bandeirantes que foi orientado a anular o gol, mas sem dar detalhes sobre quem o avisou: “Foi um lance irregular. Não posso falar porque existe a recomendação da Comissão de Arbitragem de não falar sobre lance do jogo, mas existe um trabalho em equipe. ” O quarto árbitro, Jean Pierre Gonçalves Lima, do quadro da Federação Gaúcha de Futebol, alegou ter tentado usar seu comunicador para avisar Francisco Carlos Nascimento de que o gol havia sido feito com a mão, mas a conversa do árbitro com seus assistentes atrasou o alerta. O imbróglio é aceitável, mas levantou muitas suspeitas de que fora utilizado o tira-teima da TV para invalidar o lance. A interferência externa com recurso eletrônico é proibida pela FIFA.

No último ano, a polêmica se repetiu no campeonato brasileiro, agora envolvendo outros personagens. Flamengo e Fluminense disputavam o clássico no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. O Flamengo vencia a partida por 2 a 1, quando em uma cobrança de falta o Fluminense empatou a partida. O árbitro Sandro Meira Ricci validou o gol e imediatamente em seguida, o assistente Emerson Augusto de Carvalho assinalou impedimento. Os jogadores tricolores questionaram à decisão junto ao auxiliar. O árbitro perguntou ao bandeirinha, quem estava impedido, e ao ser informado que o jogador em impedimento era o volante Cícero, o juiz da partida ratificou a validação do gol, já que quem havia cabeceado a bola fora o zagueiro Henrique. O zagueiro também estava impedido, mas o auxiliar só havia visto impedimento de Cícero. Todo o time do Flamengo cercou o árbitro e a confusão estava instaurada. A partida ficou paralisada por treze minutos, com direito a membros de ambas as diretorias invadirem o gramado.

Em determinado momento, o inspetor de arbitragem Sérgio Santos e o delegado do jogo Marcelo Vianna entraram no gramado e avisaram ao árbitro que o zagueiro Henrique também estava impedido. Sandro Meira Ricci voltou atrás mais uma vez de sua decisão e anulou o gol. Pra piorar toda a situação, um dos gols do Flamengo, marcado por Réver, havia também ocorrido de maneira irregular, já que o zagueiro estava impedido no lance. Sem intervenções, o lance havia sido validado sem maiores problemas. Os ex-árbitros e agora comentaristas de arbitragem Sálvio Spínola e Arnaldo César Coelho não tiveram dúvida e apontaram a interferência externa para a decisão definitiva sobre o lance.

Esse ano, mais um caso de uso das imagens de TV para interferir no resultado gerou polêmica no campeonato brasileiro. Avaí e Flamengo empatavam em 1 a 1, na Ressacada, quando o atacante Diego Tavares disputou uma bola com Éverton e caiu na área. O árbitro Paulo Scheleich Vollkopf marcou o pênalti e aplicou cartão amarelo em Everton. Como de praxe, os jogadores reclamaram da marcação, mas não adiantou. Quando Juan já se preparava para a cobrança, o árbitro mostrou-se inseguro e resolveu consultar o assistente de linha de fundo. Inexplicavelmente, Luís Roberto, narrador da Rede Globo, repetiu por duas veze: “Ih, rapaz! Vai consultar a gente de novo”. Como assim “consultar a gente de novo”? É habitual consultar a Rede Globo em lances polêmicos para definir os resultados das partidas? Luís Roberto deu explicações posteriormente, dizendo ter dito “vai consultar gente de novo” e não “vai consultar a gente de novo”, convenhamos, uma desculpa mais do que esfarrapada, o áudio não deixa dúvidas. O lance foi anulado e a partida terminou mesmo empatada em 1 a 1.

Na rodada seguinte, o Flamengo venceu a Ponte Preta por 2 a 0, no estádio da Portuguesa da Ilha, mas enquanto o placar estava 0 a 0, a Ponte Preta teve um gol mal anulado, já que não havia impedimento no lance. Dessa vez, a arbitragem não quis consultar terceiros para definir o gol. Na sequência, Fluminense e Flamengo empataram em 2 a 2 no Maracanã. O primeiro gol do Flamengo, marcado por Diego, originou-se de um impedimento de Éverton, e ninguém consultou as imagens de TV para anular o gol.

Independente dos clubes envolvidos nas polêmicas, e se os lances eram de fato regulares ou não, a mesma regra deveria valer para todos. Árbitros são humanos e passíveis a erro, o que não pode é o erro ser corrigido com o uso de recursos eletrônicos quando convém, ainda que de forma irregular perante a FIFA, e quando não convém, um clube sair prejudicado porque a arbitragem errou e naquele momento não era interessante olhar o tira-teima.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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