Kindle paperwhite: Prático como você

O menino e a lua

Compartilhe:

Em mais um fim de expediente, Janaína que sempre voltava pra casa distraída com o tempo, após enfrentar um longo período de trânsito, havia esquecido o fone de seu celular em casa, então, sem músicas para ouvir, passou á reparar um pouco mais nas pessoas que seguiam suas vidas normalmente pelas ruas do bairro. Entre um vizinho e outro, reparou nos meninos jogando bola em um terreno baldio próximo à sua casa. Enquanto observa os garotos correndo e levantando poeira, reparou que um deles não tirava os olhos dela. Ele basicamente parou de jogar, e ficou ali, parado, no meio do campo olhando para ela. Deveria ter cerca de sete ou oito anos, e seu olhar parecia de encantamento, como se estivesse enxergando nela a maior beleza que pôde admirar.

Janaína achou engraçada a situação e seguiu seu caminho após dar um leve sorriso para o jovem rapaz. Chegando em casa, tirou os sapatos e deitou no sofá para assistir um pouco de televisão. Ficou refletindo sobre a situação e pensando o que estaria passando na cabeça do menino que tanto a observa. Era um olhar de ternura, como há tempos não tinha. Tão jovem, tão menino, o que teria ele a dizer para ela se tivesse a oportunidade? Os leves sorrisos se tornaram em gargalhadas, que atrevido! Com aquela idade tentando cortejar uma mulher que tinha mais que o dobro de seu tempo.

Ao longo da semana a curiosidade falou mais alto e sempre que voltava para casa, Janaína olhava em direção ao campo para ver se seu admirador estava ali, e todos os dias o menino parava seu jogo para olhar pra ela. Com o tempo, ele não só a observava como também acenava para ela. Janaína sorria e acenava de volta para o seu jovem galanteador. A cena sempre se repetia e claro que ela se divertia com a situação, era bonitinho, da parte de alguém tão jovem tamanha admiração.

Certa feita, o menino assim que avistou na esquina, avisou aos outro que teria de se ausentar do jogo por uns instantes, correu para a beira do gramado, e pegou ao lado dos seus pertences, uma flor vermelha. Correu em direção à Janaína e a entregou, desejando um bom final de semana. Ela lhe sorriu, deu-lhe um beijo no rosto e agradeceu o presente, deixando o menino suspirando e ficando também emocionada com sua atitude. Ele era um verdadeiro cavalheiro, apesar de tão pouca idade.

Na segunda-feira seguinte, Janaína caminhava pelas ruas a espera de encontrar mais uma vez o menino, e daria a ele uma barra de chocolate que havia comprado no almoço para presenteá-lo. Contudo, curiosamente, ele não estava em campo com os outros. O que teria acontecido? Estaria doente? A mãe o teria colocado de castigo? A dúvida se seguiu pelos dias seguintes, já que não mais conseguiu encontra-lo.

Tempos depois, sem se preocupar mais com o menino, Janaína voltava pra casa em uma noite de céu estrelado. A lua estava cheia, e ajudava a clarear as ruas do bairro. Observava o astro, redondo, iluminado, mágico, enquanto ouvia músicas em seu celular admirando a beleza da natureza. Quando se aproximava de casa, bem mais tarde do horário que costumava voltar, avistou o menino em pé, próximo ao campo, olhando fixamente para a lua. O que ele estaria fazendo ali? Ela se aproximou e tocou em seu ombro, perguntando o motivo de estar ali sozinho observando a lua.

– Estou só olhando, pensando em como ela é grande, é enorme né? Mas ela é pequena se compararmos com todo o Universo. Eu estou aqui pensando se tinha alguma maneira de dar ela pra você. Mas como não descobri, estou disposto a te oferecer todo o meu mundo. – Disse o menino.

Janaína não sabia bem o que dizer e não conseguiu esconder o olhar de lamentação para o pedido do menino.

– Desculpe, mas você é muito jovem, eu não posso aceitar o seu mundo.  – Disse enquanto via os olhos do menino marejarem.

Ela se virou e seguiu em frente, pensando em tudo que havia acontecido. O problema não era só o menino.

 A ela restava à certeza de que não estava preparada para aceitar o mundo de ninguém.

Ao menino, a desilusão.

Compartilhe:

Sobre Rodrigo Barros

Avatar photo
Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

Veja também

O plano perfeito

Tudo havia sido minuciosamente calculado e nada poderia dar errado. O velho homem sabia que …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

1 × quatro =

*

Web Analytics