Angenor de Oliveira nasceu na Rua Ferreira Viana, bairro do Catete, no Rio de Janeiro, em 11 de Outubro de 1908. Com oito anos de idade mudou-se com a família para a Rua das Laranjeiras, número 285, onde cresceu e se apaixonou pelo Fluminense Football Club.
O menino costumava acompanhar os jogadores nos gramados do então campo da Rua Guanabara, que viria a se tornar o Estádio das Laranjeiras. Angenor viu ídolos eternos como Marcos Carneiro de Mendonça, Mano, Chico Netto, Zezé e Welfare. Carregava consigo não somente a paixão pelo futebol, como também pela música, mais especificamente pelo samba. Uniu-se ao bloco Rancho dos Arrepiados, uma agremiação carnavalesca, onde tocava cavaquinho, instrumento que ganhou de presente do pai.
Em 1919, devido às dificuldades financeiras, mudou-se com a família para o morro da Mangueira. Abandonou os estudos aos 15 anos para trabalhar como aprendiz de tipógrafo e em seguida como pedreiro. Para que o cimento das obras não lhe caísse sobre os cabelos, resolveu usar um chapéu-coco para se proteger, que os colegas diziam parecer com uma cartolinha, e Angenor passou a ser popularmente conhecido como Cartola.
Em conjunto com outros sambistas, Angenor fundou, em 1925, o Bloco dos Arengueiros, que desfilava pelo morro da Mangueira e pela Praça Onze, para brincar carnaval. A ampliação e fusão do bloco com outros existentes no morro gerou, em 28 de abril de 1928, a Estação Primeira de Mangueira. A agremiação foi fundada por Euclides, Satur (Saturnino Gonçalves), Massu (Marcelino José Claudino), Pedro Paquetá (Pedro Caim), Abelardo da Bolinha, Cartola (Angenor de Oliveira), Zé Espinguela (José Gomes da Costa) e Carlos Cachaça.
Cartola estava inclinado a dar à nova agremiação as cores verde e rosa, que eram as mesmas do bloco Rancho dos Arrepiados, de sua infância nas Laranjeiras. Sentado a mesa de jantar, o sambista avistou uma antiga bandeira do Fluminense guardada atrás de um móvel da sala, com o tempo, o verde e o grená da bandeira desbotaram, ficando mais claros. Cartola não teve mais dúvidas, as cores da Estação Primeira de Mangueira seriam o verde e o rosa.
Em 1969, já consagrado como artista, Cartola foi convidado pelo então presidente Francisco Laport, para um almoço, onde seria homenageado por toda a diretoria do Fluminense. Dentre os presentes estavam João Boueri, Preguinho, Silvio Vasconcellos, Ari Duboc e Paulo Coelho Netto. Após visitar as dependências do clube, Cartola foi avisado pelo presidente que poderia sempre voltar às Laranjeiras, pois seria recebido de braços abertos.
Em 1975, o então presidente Francisco Horta subiu o morro da Mangueira atrás de Cartola para um pedido inusitado. O Fluminense havia contratado o craque Rivellino que faria sua estreia contra o ex-clube, o Corinthians, no sábado de Carnaval. Horta queria o lançamento da Torcida Manga-Flu, com um desfile da Mangueira antes da partida. Cartola aprovou a ideia e de imediato convocou o mestre Valdomiro que assegurou a presença dos 120 ritmistas da escola.
A estratégia foi um sucesso, mais de 70 mil Tricolores assistiram e ouviram o ritmo das batucadas invadindo as arquibancadas. Comandados por Cartola, os instrumentistas da Mangueira adentraram o anel superior do Maracanã para celebrar a estreia do craque tricampeão do mundo. O Fluminense venceu o Corinthians por 4 a 1, com um baile de Rivellino, deixando a festa completa, show no campo e show nas arquibancadas.
Cartola faleceu aos 72 anos, vitima de um câncer, no dia 30 de novembro de 1980. Nesta mesma data, Edinho marcou, de falta, o gol contra o Vasco da Gama, que deu ao Fluminense o título de Campeão Estadual, deixando nas arquibancadas um misto de alegria e tristeza. Em seu funeral, na quadra da Mangueira, foi colocada uma bandeira do Fluminense por sobre o caixão, que só seria retirada quando o mesmo baixou à sepultura.
Essa foto é do Projeto Pixinguinha, de 1977, um encontro entre Cartola, com a camisa Tricolor e, João Nogueira, com a camisa do Flamengo.