A decisão

Fazia certo tempo que ele havia tomado essa decisão. Não contou para seus amigos ou sua família, apenas para ela. Ele havia decidido morrer. Passava à maior parte dos seus dias sem companhia, não importando se eram frios e chuvosos, ou com um lindo céu azul e sol escaldante. Quando não estava no trabalho, estava enfurnado em casa, passando o tempo, esperando o instante de voltar para a empresa. A vida se limitava a isso, e isso não era vida.

Qual o sentido de viver a vida, se a vida não podia ser vivida ao seu lado?

Essa era a pergunta que habitava seus pensamentos enquanto esperava o tempo passar, para quem sabe um dia, estar novamente ao lado dela. Ele lutou muito contra esse sentimento, essa vontade subida que inquietava seu peito. Pensava que deveria seguir em frente, tentar outros caminhos, experimentar outras coisas e voltar a viver, mas não podia. Pensando bem, ele até demorou a tomar a decisão que mudaria tudo, ainda que isso não fosse o mais racional a ser feito.

Não importava se estava sozinho, sentado na mesa de um bar, ou se entre muitos amigos em conversas animadas. A realidade era uma só, não havia vida naquilo, eram momentos vazios, pequenos prazeres que não traziam a felicidade que buscou por toda a sua vida.

O que era felicidade? Sempre se questionava sobre isso. Para ele, existiam momentos felizes e momentos tristes, mas felicidade era algo muito maior, algo que não sabia ao certo se havia experimentado. Já a tristeza, essa parece que nunca teve fim e o assombrava, nos pensamentos, nas lágrimas, nos momentos de reflexão. Queria ser como os outros, rir dos mais diversos momentos, curtir a vida de forma intensa ou apenas viver. Mas nem isso ele conseguia, faltava algo, faltava ela e, sem ela não dava mais para viver.

Em seu último ato, tomou o telefone a mão e decidiu ligar pra ela, precisava contar sobre sua decisão: Ele havia decidido, não mais lutaria para seguir, agora precisava morrer…

Morrer todos os dias… Mas agora de amor por ela…